Mesmo em Manhattan, o Edifício Empire State destaca-se. Desde a sua conclusão em 1931 tem sido um dos mais emblemáticos monumentos arquitetônicos nos Estados Unidos, permanecendo como a estrutura mais alta do mundo até as Torres Gêmeas do World Trade Center serem construídas no centro de Manhattan, quatro décadas depois. Sua construção nos primeiros anos da Grande Depressão, empregando milhares de trabalhadores e exigindo vastos recursos materiais, foi impulsionada por mais do que interesse comercial: o Edifício Empire State seria um monumento à audácia dos Estados Unidos da América ", a Terra que alcançou o céu com seus pés no chão." [1]
O rápido e desenfreado desenvolvimento de Manhattan foi uma questão de séria preocupação nos primeiros anos do século XX. A construção do Edifício Equitable Life em 1915, embora não fosse, de modo algum, o ponto de partida do debate, forneceu um claro exemplo do que poderia acontecer à cidade de Nova Iorque, se não existissem leis de zoneamento. O Edifício Equitable Life, que ocupava toda uma quadra em Lower Manhattan, subiu quarenta andares de altura sem qualquer recuo da calçada. Os temores das ruas, sempre carentes da luz solar por cânions artificiais de arranha-céus, estimularam a aprovação do Regulamento de Zoneamento de 1916, um documento histórico que exigia recuos para edifícios que passassem alturas especificadas por sua localização na cidade. [2] Esses regulamentos levariam à característica forma de degraus que os arranha-céus da cidade, e principalmente os Art Deco, viriam a ser conhecidos. [3]
Os arranha-céus normalmente crescem para um de dois propósitos: servir como sede de vitrine para empresas, ou então como projetos especulativos para empreendedores imobiliários. [4] O Edifício Empire State pertenceu ao último grupo, um esquema inventado pelo ex-governador da cidade Alfred E. Smith, em colaboração com seu parceiro financeiro John Jakob Raskob. Menos de um mês antes da quebra da Bolsa de 1929, Smith e Raskob convocaram uma reunião dos ricos financiadores da cidade para discutir sua solução para o iminente desastre financeiro: uma torre de escritório de altura sem precedentes. Segundo Raskob, o enorme empreendimento inspiraria o povo americano e ajudaria a estabilizar uma economia que estava prestes a cair em pedaços. Ao final da reunião, Smith e Raskob conseguiram levantar os fundos para comprar o antigo Hotel Waldorf-Astoria, que seria demolido para dar lugar à sua torre visionária. [5]
Apenas vinte meses se passaram desde o início do projeto conceitual em setembro de 1929 e a inauguração do edifício em maio de 1931. Os vinte meses foram uma agitação de atividade constante: uma vez que os projetos foram elaborados, um exército de 3.500 trabalhadores derrubou o Waldorf-Astoria e montou o Edifício Empire State a um ritmo assombroso. No auge da atividade, a torre subiu pouco mais de um pavimento por dia - uma taxa de construção que, embora ainda impressionante pelos padrões de hoje, era inédito na década de 1930. [6]
Os custos materiais do Empire State Building eram tão altos quanto a mão-de-obra. 210 colunas da fundação foram afundadas no rochedo de granito resistente de Manhattan - uma medida necessária para suportar as 365.000 toneladas acima. 50.000 vigas de aço foram então montadas e revestidas com vidro, tijolos e calcário para formar uma torre de 380 metros de altura. Apesar disso, o edifício não só foi concluído no prazo, mas 45 dias antes do previsto e U$ 5 milhões (U$ 4.556.016) abaixo do orçamento. [7]
Sua finalidade especulativa exigia que o Edifício Empire State proporcionasse tanto espaço de escritório rentável como poderia ser construído. Os recuos exigidos pelo Regulamento de Zoneamento de 1916, embora ainda expressos na forma da nova torre, foram contrariados pelo fato de que o lote em que o edifício estava situado era aproximadamente o dobro da maioria das estruturas circundantes. Dessa forma, o arquiteto William Lamb foi capaz de projetar um eixo de torre primária com amplo espaço para escritórios e elevadores, um dilema menos satisfatoriamente resolvido no Chrysler Building, de 1929, até então o mais antigo do mundo. [8]
Dado que o Edifício Chrysler tinha apenas o título de "edifício mais alto do mundo" por aproximadamente um ano antes deste ser concedido ao Edifício Empire State, talvez seja inevitável que os dois arranha-céus sejam submetidos a intermináveis comparações. Em métricas puras, este último é o maior edifício: é 62 metros mais alto, e seus 186.000 metros quadrados de espaços de escritórios são mais que o dobro do que o anterior. [9, 10] No entanto, o debate sobre qual torre é a mais esteticamente agradável não é tão facilmente resolvido.
O Empire State, apesar de seu estilo Art Deco, é significativamente mais austero na aparência do que o mais ostentoso Chrysler. Desprovido das janelas arqueadas e gárgulas modernas que adornam a torre mais antiga, o Empire State é impressionantemente subjugado. Ele não é inteiramente sem ornamentações, contudo: um par de águias de concreto esculpidas flanqueiam a entrada e brilhantes extensões de alumínio que lembram asas se afilam em direção ao pináculo da torre. A exuberância da coroa metálica do Chrysler, quando contrastada com a austeridade do Empire State, pode ser vista como uma mudança de atitudes de um país antes e depois do início da Grande Depressão -e cabe ao observador decidir qual deles, se algum deles, é o mais atraente.
Apesar do otimismo com que Smith e Raskob haviam originalmente proposto o projeto, e apesar do êxtase com que Nova Iorque assistiu o seu mais novo marco crescer aos céus o Edifício Empire State não pôde escapar das realidades da depressão profunda. Inicialmente, os proprietários do edifício não conseguiram encontrar mais do que alguns inquilinos para ocupar sua torre, que logo recebeu um apelido pouco favorável: o "Empty State Building". [12]
A história viria para justificar o novo arranha-céu. Aqueles que não ridicularizaram o prédio após sua conclusão aclamaram-no, até mesmo declarando-o a "Oitava Maravilha do Mundo". [13] Sua introdução no horizonte de Manhattan representaria o fim da competição da cidade pelo edifício mais alto, até o World Trade Center finalmente destroná-lo em 1972. O próprio edifício acabou tornando-se um empreendimento rentável, hospedando mais de 15.000 trabalhadores e incontáveis visitantes para observar a cidade a partir do pavimento de observação, no 86º andar. [14]
Embora o Empire State já tenha perdido seu status de edifício mais alto do mundo, nunca perdeu completamente a adoração que gerou em 1931. Assim como Smith e Raskob previram, ele tornou-se um monumento duradouro à democracia, perseverança e realização. Mesmo com outros edifícios mais altos, seu impacto particular em Nova Iorque e a ideia do arranha-céu como um todo provavelmente permanecerá. Joe Carbonelli, que trabalhou no canteiro de obras durante sua juventude, colocou: "Embora existam agora numerosos edifícios que são ainda mais altos, ele tem permanecido um símbolo para Nova Iorque e a América, e para a coragem e aventura." [15]
Referências
[1] Kingwell, Mark. Nearest Thing to Heaven: The Empire State Building and American Dreams. New Haven: Yale University Press, 2006. p5.
[2] Dunlap, David W. "Zoning Arrived 100 Years Ago. It Changed New York City Forever." The New York Times, 25 de Julho de 2016. [link].
[3] Curtis, William J. R. Modern Architecture since 1900. London: Phaidon, 1996. p219-225.
[4] Tauranac, John. The Empire State Building: The Making of a Landmark. New York: Scribner, 1995. p38.
[5] Kingwell, p1-5.
[6] Willis, Carol, and Donald Friedman. Building the Empire State. New York: W.W. Norton in Association with the Skyscraper Museum, 1998. p11-12.
[7] Cowan, Henry J., and Trevor Howells. A Guide to the World's Greatest Buildings: Masterpieces of Architecture & Engineering. San Francisco, 2000: Fog City Press. p112-113.
[8] Willis, p17-18.
[9] Cowan and Howells, p111-112.
[10] Willis, p14.
[11] Bayer, Patricia. Art Deco Architecture: Design, Decoration, and Detail from the Twenties and Thirties. New York: H.N. Abrams, 1992. p92.
[12] Cowan and Howells, p113.
[13] Tauranac, p19.
[14] Cowan and Howells, p113.
[15] Kingwell, p12.